Pode me chamar de Mamãe...

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Estrangeiro Monster

Mi bebe, 

Sair do país tem suas peculiaridades. É como lançar o olhar na escuridão de um quarto, para enxergar é necessário um tempo ali... E aos poucos você consegue visualizar tudo com muita nitidez...apesar do medo que se tem inicialmente. 

É bem curioso essa visão que a gente cria do que é estrangeiro, esse pré-conceito estipulado quase que no útero de nossas mães, e também a imagem desse conceito quando vimos outro país pela primeira vez. É como olhar para o primo rico da família e se sentir menor... Acredito eu que todos fazemos isso quando saímos do nosso país de origem, no meu caso, o Brasil. Acaba que sem querer colocamos o Brasil no lugar do primo pobre e sem valor, mas não é bem assim que as coisas devem ser consideradas. Foi aí que a sensação de patriotismo apareceu com uma força cabulosa. 

O Brasil é o país das maravilhas e digo isso em verdade, pois não a nada no Brasil que eu desgoste... Claro que situações irritantes existem como: conviver com a pobreza de espírito e cultura das pessoas, conviver com a corrupção tão calorosamente mostrada no dia-a-dia, entre outros pontos decepcionantes do Brasil, mas isso, tem em qualquer lugar do mundo.

O que me assusta e que chamo de monster é a vontade de ficar por aqui, de construir uma vida e família nessa paisagem que mais me parece o canto da sereia... Como se me faltasse patriotismo e amor pela origem a qual pertenço o que não é real.


Bom, mi bebe, sempre tive medo da experiência, porém, nunca deixei de tê-la pelo fato de sentir-me medrosa... Espero que você também consiga ter essa consciência: O medo não pode nos impedir de viver, esse é o lema que todos deveriamos carregar. Porque mesmo que eu tenha vontades, de fixar residência aqui, de conhecer pessoas - que acredito serem interessantes -, de ganhar e perder coisas aqui ( até porque quando ganhamos algo, também perdemos algo - a vida é assim, quando temos o poder de escolha, tanto se perde quanto se ganha), feliz ou infelizmente essa dualidade de querer e não conseguir por medo, ou sentir medo e ir mesmo assim, acontece!

O medo sempre vai nos alcançar mesmo que em menor grau, afinal, uma pessoa sem medo - ainda quero discorrer um texto sobre isso - é uma pessoa morta em alguns aspectos importantes: ter medo não significa fraqueza, medo é o aspecto da sensibilidade que deve ser minimamente preservada. Uma pessoa sem medo não tem muito prazer em viver. Por isso, é necessário ter medo, para mostrar algo de interessante ao mundo. 

Bom, me assusta muito o fato de te várias sensações me dominando em tão pouco tempo... A vontade, o desejo de ser melhor, porque vi o melhor do mundo e também vi o  pior e isso é terrível! Vi como as pessoas são o seu próprio umbigo e mundinho. Ninguém se interessa pelo universo do outro se não receber algo muito valioso em troca, nem que seja um pedaço do seu coração machucado.

As pessoas questionam seu modo de vida, seus pensamentos...Acreditando que a delas é o modo certo de viver, apontam o dedo e significam as pessoas, as valorando de tal maneira, que se falarem que ela não é boa, talvez realmente ela nunca será por falta de fé. E sei bem como é isso, já fiz algumas vezes, alias, muitas. Já desacreditei das pessoas e ainda me vejo nessa fase desacreditada de muita coisa. Espero muito mesmo, mi bebe, que não tenha que passar por esse momento de escuridão para perceber Deus e o quanto o mundo pode ser mais do que um sentimento que você achava profundo e verdadeiro. 

Existem vários universos a se explorar. Não fique preso no primeiro que te faz promesas. Promesas não valem nada na boca de quem não tem honra. Peço desculpas a todos, inclusive, dos que um dia magooei com minhas palavras afiadas, polidas, mas capazes de ferir. 

Peço desculpas ao meu país por envergonhá-lo... Porque aqui brasileiro é marginalizado e sei o porque, afinal, o brasileiro aqui faz merda. Parece parasita que vem para um outro país como se fosse outro organismo e infecta tudo e quando um outro ser da mesma espécie habita o tal organismo é tido como uma doença. Cara, eu não entendo o porque me senti tão bem e tão ruim ao mesmo tempo... Eu ouvi uma brasileira nos comparando a pragas: - Nossa Brasileiro é igual a barata, tá em todo lugar (sic)!
Eu pensei: alooou! Você está falando mal da sua nação?! Inacreditável! 

Por isso me sinto tão mal! Nós mesmos denegrimos o que somos, quem somos. E percebi que o brasileiro é um bicho idiota e desunido. Um amigo meu brasileiro disse que os brasileiros aqui ao invés de se ajudarem se prejudicam! Cara?! Tem base? Estão num país diferente, são do mesmo país e se acabam?! Estou revoltada! 

Mi bebe, saiba que você tem a Deus e somente a Ele em qualquer lugar e que o céu daqui é o mesmo do de lá - quer dizer, o céu do Brasil é o mesmo que habita em todo lugar! Então a todo momento contemple o céu porque ele sempre será o mesmo, por mais diferente que esteja :) 

Aqui as coisas parecem facéis mais na realidade não são... Por isso me referi ao canto da sereia... Esse desejo de ter tudo de imediato, porque aqui é o que oferecem - tudo o que você quer, você tem e de melhor - isso é ilusão.  Da mesma forma você vai passar problemas e dificuldades e também vai se sentir triste e sozinho... Ou alegre, whatever, as sensações serão as mesmas, com um diferencial: a saudade de casa te acompanhará e aí percebemos da forma mais dolorosa que somos patriotas não por causa da camisa 10 da seleção brasileira, mas porque a dor nos mostra o calor de casa, do aconchego de quem nos ama, de quem te acolhe por ser brasileiro. 

Eu até agora não entendi esse texto que escrevi, as ideias estão desconexas, os sentimentos bagunçados, mas vou postá-lo assim, na sua essência. Talvez vocês consigam sentir a angustia que estou passando e a vontade de estar em casa, mesmo sendo tão bem recebida pelos meus tios e primos. Nada será melhor que minha terra, meus amigos, minha casa. :)





*Mi bebe, acho que você será brasileiro hahahaha

*Mamãe te ama e te espera ansiosa! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário